sexta-feira, 15 de novembro de 2013

:: Superfície ::




Para muitos é dado a visão. As pessoas veem os fatos e constroem suposições, de acordo com o seu próprio padrão. Espera-se sempre ver nos outros, o reflexo de nossas próprias atitudes.
Para poucos é dado a percepção. Quase um dom perceber o que vai além das fugas, além das reações, além dos instintos, além das palavras muito bem articuladas. Quem vê apenas as aparências do reflexo, não percebe o que a profundidade esconde.

Quando se olha na superfície de um rio, vemos nossa própria imagem refletida. Todo Narciso se acha mais bonito, e é fácil se deixar levar pela beleza das aparências. Difícil é mergulhar no mar profundo das pessoas, para percebê-las. É preciso  profundidade para descobrir um oceano diferente de nós mesmos ou do que vivenciamos. E quando ha tempo para a exploração, conhece-se a diversidade e o padrão perde sua referência.
Ser profundo é ter uma arca do tesouro escondido; é ter lama e água cristalina coabitando o mesmo mar; é ter uma margem sem reflexo e cheia de ondas; é deixar de ser Narciso e ter consciência de uma beleza imperfeita e diferente da do espelho; é ver o outro como ele realmente é, perceber o desconhecido.

Vivemos de aparências. Julgamos o que parece ser. E acreditamos no que não é.
A essência tá escondida, esquecida e desacreditada.
A superficialidade se tornou mais importante. Ter um comportamento padrão e politicamente moldado é mais valorizado do que ser autêntico.  Ser profundo é arriscado, exige tempo, dedicação, esforço, dá trabalho e dor de cabeça.

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