sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

:: 2 meses ::




"Passados dois meses de tantas histórias, comecei a pensar no sentido da solidão. Um estado interior que não depende da distância nem do isolamento, um vazio que invade as pessoas e que a simples companhia ou presença humana não podem preencher; solidão foi a única coisa que eu não senti depois de partir. Nunca. Em momento algum. Estava sim, atacado de voraz saudade. De tudo e de todos, de coisas e pessoas que há muito tempo não via. Mas a saudade ás vezes faz bem ao coração. Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias. Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só."


"... Dias inteiros de calmaria, noites de ardentia, dedos no leme e olhos no horizonte, descobri a alegria de transformar distâncias em tempo. Um tempo em que aprendi a entender as coisas do mar, a conversar com as grandes ondas e não discutir com o mau tempo. A transformar o medo em respeito, o respeito em confiança. Descobri como é bom chegar quando se tem paciência. E para se chegar, onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. É preciso, antes de mais nada querer."   


“Hoje entendo bem meu pai. Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.”


Amyr Klink



Hoje fazem, exatamente, dois meses que essa aventura começou...
Distância, família, viagem, saudade, sentimento, tranformação, alegria, querer, solidão, amigos, paciência, entendimento, vazio, realização, presença, pessoas, histórias, mundo, pensar, sentido, tempo, interior, momento...
São palavras muito presentes.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

:: A Amiga ::


Antes de continuar essa história só queria falar uma coisa, a turca tem nome, e se chama Fátima!
Um nome bem português por sinal. Talvez esse seja apenas mais um de seus mistérios.
Bem, o que sei, é que depois do chororô todo, ela dormiu duas noites fora. No terceiro dia, já de noite, ela apareceu junto com a primeira amiga [a que dominava minha parte quando cheguei]. Entraram no quarto e, como sempre, estavam muito a vontade. Porem, a turca tinha a expressão triste, de quem acabou de chorar. Minha curiosidade analisava todos os movimentos. Eu tentava disfarçar. A amiga tentava contornar algum mal estar. E a turca dobrava alguns papeis em branco como se fossem de cartas. Em pouco tempo foi tomar banho [o que não acontecia com muita frequência]. Na volta, senti que ela se esforçava para sorrir, não demorou muito, começou a arrumar algumas roupas na mala. Me coçava inteira, tamanha a curiosidade que me consumia. Mil possibilidades me passavam em mente. Mas sei das minhas condições/dom para dramatizar tudo, então tentava me aquietar focando em uma realidade sem muita graça e bem previsível pros fatos.

Naquele final de semana continuei sozinha. Passados mais três dias ela voltou. [minha convivência com a turca teve "ciclos", no qual, o número três sempre esteve presente]. Voltou de manhã, passou o dia com a amiga na cozinha, faziam comida, conversavam, davam risadas, navegavam nos laptops. Sem dúvida os ânimos estavam melhores. Lá pelas tantas a turca abre a porta do quarto e sem falar nada me entregou um prato com sanduiche, tentei recusar, mas ela insistia. Aceitei pra não fazer desfeita. Talvez fossem os primeiros passos de uma comunicação. A princípio achei generoso da parte dela. Depois imaginei que fosse uma forma de retribuição, [à tarde ofereci trident e a minha cadeira pra sua amiga sentar]. Mas por fim acho mesmo que era ela tentando me agradar. Foi anoitecendo, elas pegaram o edredom e se acomodaram no sofá de uma das salas de convivência. Duas horas da madrugada, a turca voltou pro quarto, deitou na cama, deu boa noite e dormiu. As quatro, a amiga entrou no quarto, deitou junto com a turca deu boa noite e TAMBÈM dormiu.

Realmente aquela cena me deixou sem reação. Não conseguia nem supor o que poderia significar tudo aquilo. Só me lembrava do Sérgio e roubava os pensamentos dele pra mim. [Ele sempre acha que o mundo é gay ou lésbico, ou seja, vou fica pra titia]. Me parecia muito óbvio pra ser verdade, mas se fosse, parecia muito ousado. No dia seguinte convivemos as três em um quarto com menos de 10m². À noite, o que parecia irreal, se repetiu. Mas dessa vez, mais cedo, sem muita tática, sem tentativas de agrados, sem constrangimentos, com risadas, conversas e um boa noite conjunto. Tentava evitar dar razão ao Sergio, afinal, ainda preciso ter esperanças de casar e ter filhos. Não acho justo TODOS os homens lindos e agradáveis desse mundo, se amarem. Há de sobrar um pra mim! [Se possível, podia sobrar outro pra San, pra Carol, pra Nara, pra Anita... mas só se possível, rs.] Enfim, após minha crise com os pensamentos Sergianos, me dei conta que no dia seguinte estava de partida pra Lisboa. Com o território livre, só imaginava o que poderia acontecer. Sem ter outra opção, resolvi dormir também.

Acordei cedo, havia marcado de almoçar lá com o Alex. Assim que voltei do banho, a turca estava de pé. Porem a amiga ainda dormia. Dividir quarto é trabalhoso. Existe sempre a preocupação de respeitar o sono alheio. Não fazer barulho é quase um dom. Tentei resolver primeiro o que podia fora do quarto. Chegou um monento que não havia mais o que fazer, e eu me vi junto à turca, as "donas" do quarto, com a cortina ainda fechada, a luz ainda apagada e em total silêncio pra não acordar.... a "visita". Comecei a refletir o quanto eu realmente queria continuar sendo "simpática" ou o quanto seria mais divertido chegar logo em Lisboa. Antes que eu pudesse escolher a amiga acordou. Fiz minha mala em segundos [como nunca na vida consegui] e deixei minha cama à sorte do destino.
Logo que sai do elevador, no térreo, antes que eu pudesse desejar um bom dia, o Sr. Carlos me interrompe perguntando se a Fátima já havia ido embora. Tudo ficou confuso e apenas respondi que não. Mas já começou a arrumar as malas? Insistiu. Neguei novamente. Logo revelou que aquele seria o último dia dela.
Confesso que não sabia se ficava triste ou feliz.
Foi um começo sem encontros, encontros sem começo, vários desencontros, e um final sem despedidas.
Talvez devesse mesmo ser assim.

E eu que estava até gostando dos mistérios turcos, voltei e encontrei tudo vazio. Os mistérios? Sérgio explica.