quarta-feira, 14 de abril de 2010

:: Abençoada ::




Ainda na época que estávamos todos mais ociosos esperando as aulas começarem, surgiu um convite: "- Vamos esse final de semana pra Fáima?". Apesar de ser bem religiosa e saber da fama dessa cidade, nunca foi minha prioridade conhecê-la. Porém como estava sem fazer nada e ia ser um "bate-volta" de apenas um dia. Aceitei. Por uma questão de facilidades, resolvemos ir no sábado e não no domingo. Sexta a noite então, entrei na internet pra saber um pouco mais sobre o lugar. Adoro fazer pesquisas. A primeira coisa que descobri foi que Fátima é um nome árabe, ao contrário do que havia dito na texto da turca. Li tudo sobre a história da cidade, os lugares sacros, os relatos das aparições da Santa e do anjo, a vida dos pastorinhos... Fui me contagiando com o clima, e só fui dormir pq já estava tarde.

A cidade era bem aquilo que havia pesquisado. Tudo muito fiel. Porém o que não havia lido em lugar nenhum foi sobre a atmosfera do lugar. Era mesmo mágico e especial. Estávamos em três: um espirita, uma católica e uma evangélica, e todas sentiam a mesma coisa sobre estar realmente em um lugar diferente. No começo me espantei com o número de fieis, o santuário todo estava cheio e nem estávamos ainda nos meses de procissões. Logo decidimos assistir uma missa, pra nos envolvermos ainda mais com o contexto. No meio da missa a ficha caiu: era o dia 13 do mês, dia exato de todas as aparições de Maria no lugar. Eu até então não tinha me dado conta, nem as meninas, nada foi programado nesse sentido, ou seja, era mais uma daquelas velhas "sincronicidades" da vida. O passeio todo foi muito encantador, visitamos todo o santuário: a paróquia, a basílica, a igreja, a capelinha, a árvore, o muro de Berlim [sim, lá tem um pedaço do muro original], a colunatas e o Museo/casa de Lúcia e o poço do anjo. Foi lindo.

Quando falei pra minha mãe sobre as minhas intenções de ir ao Santuário, ela ficou muito entusiasmada e me relatou sua afinidade com a N.S.de Fátima. Confesso que chegando lá não me contive e fiz orações pedindo proteção e orientações nessa minha nova jornada. Logo vieram as respostas. Quando chegamos ao muro de Berlim, paramos pra tirar fotos, entre as muitas pessoas que nos interrogavam sobre o que se tratava aquele "pedaço de concreto" [tá vendo pq adoro fazer pesquisas] uma delas me chamou muita atenção. Ele era Lindo, e veio em minha direção. Eu que já estava sem ar, fiquei mais ainda quando ele falou comigo em inglês [não falo nada, nada, nada da lingua]. Não sei como, perguntei se ele falava português [em inglês] Ele respondeu que não, logo a Carol veio ao meu lado conversar com a beldade. Foi quando vi sua batina por baixo do sobretudo [estava um dia muito muito muito frio]. Ele era padre, logo vi que ninguém era mesmo tão perfeito. Ele simpático desde o início, estava apenas se oferecendo pra tirar uma foto das três. E tirou.

Já na volta, dentro do ônibus, estávamos exaustas de caminhar o dia inteiro, sentamos no último banco, aquele inteiro. A Luana de um lado, Carol de outro, e eu largada no meio, quase caindo da poltrona. Paramos em Leiria e subiram alguns passgeiros. Do meio pra trás não havia ninguém sentado, apenas nós no último banco. Dois rapazes sentaram bem perto. Eram jovens, atléticos e um deles bem bonito. Esse no entanto, desde que entrou não parou de me olhar, eu muito matuta, já estava bem constrangida. Puxei assunto com a Carol pra não ter que ficar olhando pra frente [corredor]. Assim que ele parou de olhar pra mim, me ajeitei na cedeira, como uma mocinha comportada. O ônibus deu partida, e ainda assim ele olhava toda hora pra trás, na tentativa de arrumar alguma desculpa pra conversar. Logo ofereceram o lanche que começariam a comer. Foi quando a Luana se levantou pra ir ao banheiro. Não conseguindo abrir a porta ela gritou pela Carol, eu que estava no meio me levantei e fui ajudá-la. Quando passei por eles,  escutei: "- Então vc se chama Carol?". Neguei, falei meu nome e fui até a Luana. Na volta ele se levantou e ficou no corredor, sentado no braço da poltrona da frente, muito atirado começou uma conversa. Me lembrei de todo meu adestramento na cidade grande e fui educada. Afinal conversar é comigo mesmo. Conversa vai, conversa vem, perguntei o que eles estavam fazendo. Senti que a pergunta não agradou muito, mesmo assim insisti. Mais uma vez ele tentou fugir, mas eu muito persuadiva consegui a resposta. Porém ficamos todas meio em choque, ou mesmo sem querer acreditar. Ele tirou do bolso um documento oficial comprovando o que falava. Lemos tudo e se fez um minuto de silêncio. Para situação não ficar ainda pior, tentei continuar a conversa como se tudo aquilo fosse a coisa mais normal do mundo e acontecesse com qualquer um. [coisa que tb faço muito bem]. Eles eram presidiários, estavam detidos a 6 anos e aquela era a sua primeira visita condicional, tendo que se apresentar novamente há polícia na segunda a noite. Lembrei da minha irmã que trabalha em um bairro muito perigodo em minha cidade, ela sempre atende alguns "suspeitos" e diz: de bandido ou vc vira amiga, ou já é inimiga. Na dúvida resolvi ser "amiga" e me vi perguntando como é a vida no presídio, o sistema carcerário, as acomodações, as refeições, como foram detidos, quando vão ser soltos, até sobre as visitas intimas soubemos. Mas confesso que não via a hora de chegar em Coimbra. Acho que fui muito convincente, pq até meu telefone ele pediu, e pensem em um jogo de cintura que fiz pra conseguir mentir.
Chegando em Coimbra não tinhamos muito tempo, havia uma festa dos calouros que nos comprometemos a ir, e já estava na hora. Na festa conhecemos muito brasileiros recém chegados. Já no final da noite, o que eu particularmente havia achado mais animado, veio conversar comigo. Estavamos junto com o pessoal, eu que não me aguento já estava contando dos presidiários que conheci a poucas horas e ele das peripécias que passou até chegar aqui. Ele era divertido, [me fez lembrar muito, um amigo que hoje está na Austrália]mas conversamos muito pouco e já era hora de ir embora. Ele pegou meu telefone e no dia seguinte me chamou pra ir ao cinema. Eu que havia achado que ele estava acompanhado na boate, nem fiquei prestando muita atenção, quando ele se aproximou foi muito rápido, e tinha muita gente, e eu muito constrangida, não reparei nada. No shopping a "amiga", que na minha cabeça era a namorada, estava junto, só por isso aceitei o convite [ser criada na roça tem dessas coisas]. Mas realmente foi o que salvou. Pq assim que cheguei, em menos de meio segundo, mandei uma mensagem pra Luana. "Ele é gay!!!". A Luana que já estava fazendo planos pra nós dois, morreu de rir.

Em apenas um dia: um padre, um presidiário e um gay, acho mesmo que a Santa ouviu as minhas preces!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

:: Irmã mais nova ::



O que eu menos tenho nessa vida é CERTEZA. Mas também quando ela aparece, não há espaço pra dúvida alguma.
Que nada nessa vida é por acaso, até Einstein já dizia. [e tá ai, uma pessoa que sabia das coisas]. Mas confesso que quanto mais o tempo passa, mais percebo o proposito da sincronicidade.
Há 20 anos atrás conheci uma pessoa. Na época nem fazia idéia da importância que isso ia ter em minha vida. Primeiro, pq crianças não fazem idéia de nada mesmo, só imaginam. E segundo pq foi tudo de forma tão natural, que nem teria como ser de outro jeito.
A verdade é que essa relação estava fadada a dar errada. Na primeira tentativa de aproximação, ela virou a cara e nem se quer me respondeu. Na segunda, ela decendo do ônibus escolar, enfiou o pé entre o meu e minha sandália, e foi parar no hospital com um gesso na perna. Eu era um bicho do mato [passei minha infância em uma cidade bem do interior] e ela muito urbana e influente. Adoro carne bem passada, ela ama as cruas. Falo pelos cotovelos, ela super tímida. Tenho memórias "intra-uterinas", ela lembra nem letra de música. Sou sempre ligada em tudo, ela vive desligada. Adoro dançar, ela não se entende nem com o dois pra lá, dois pra cá. Não vivo longe do computador, ela nem tem Msn. Sou super apegada a tudo, ela super livre. Mas misteriosamente, tudo deu certo.
Hoje é o aniversário dela. E depois de tantos anos é a primera vez que não poderei estar presente na comemoração. Isso me deixou meio nostáugica. Passei o dia lembrando o que já vivemos. E não foi pouca coisa. Como tudo começou quando ainda tinhamos 9 anos, inevitavelmente, passamos por muitas coisas juntas. Sempre juntas. Acho que desde que a conheci, me perguntam se ela é a minha melhor amiga. Sempre foi nitido a nossa ligação. No começo dizia que sim. Hoje digo que não. Respondo que é muito mais do apenas isso, ela já se tornou minha IRMÃ.
E isso significa muito pra mim. Em todos esses anos, estávamos sempre presentes uma na vida da outra. Ela de forma mais silenciosa, eu sempre fazendo um escandalo. Mas sempre presentes. Seja no natal, no ano novo, no carnaval, no aniversário, no vestibular, na formatura, no casamento, no termino, no recomeço, no hospital, no velório, na casa da mãe, na do pai, na do namorado, na fazenda, na casa de férias, no aeroporto, no cinema, no restaurante, na rua, no ônibus escolar, na sala de aula, no mercado, na kombe, na mudança, na gargalhada, nas lágrimas, nas férias, nos churrascos, nos convites de última hora, nos eventos "chiquetosos", na família, na personalidade...     no coração.
Por ela ponho minha mão no fogo, sem medo de me queimar. Nunca conheci uma pessoa tão correta e integra. Como também nunca conheci alguém tão sotuda. [brinco falando que ela não só naceu virada pra lua, mas tb pra todos os outros planetas enfileirados]. Parte do que eu sou hoje, veio dela. Parte da história dela hoje, vem de mim. É bom saber que ela vai sempre estar presente, mesmo que ausente. Bom saber que nos reencontramos nessa vida.  Bom saber que foi uma "coincidência significativa".

Hoje é o aniversário dela. E depois de tantos anos é a PRIMEIRA vez que não poderei estar presente na comemoração.